Editorial

Vale a pena investir em ações?

Juliano Niederauer
18 de setembro de 2014

Recentemente, o Jornal da Globo apresentou uma pesquisa sobre as preferências dos jovens ao investir o seu dinheiro. Chamou a atenção o fato de que a concentração de investimentos no mercado de ações ainda é bastante reduzida para este público. Mas não deveria ser. Se existe um momento ideal para aplicar na bola de valores, é enquanto ainda somos jovens. Afinal, trabalhar com longo prazo é sempre uma questão importante quando falamos de ações, o que acaba se tornando uma questão complicada para pessoas com idade avançada, que preferem investir em opções de prazo mais curto.

Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso muito dinheiro para investir em ações. Porém, quando falamos nesse tipo de investimento, a maioria das pessoas já demonstra falta de conhecimento, ceticismo e insegurança: "Não entendo muito de ações, mas acho que é um investimento só para ricos! Além disso, ouvi falar que é muito arriscado e posso perder muito dinheiro, então prefiro nem entrar nesse mercado".

A verdade é que o brasileiro realmente conhece muito pouco sobre o assunto, sendo que apenas uma pequena parcela da população investe em ações. Inclusive, pesquisas demonstram que a maioria das pessoas que não querem investir em ações é devido à falta de conhecimento. No entanto, vem crescendo cada vez mais o número de cursos, livros e materiais sobre o mercado de ações, muitos dedicados a pequenos investidores. Com a popularização da Internet, tornou-se bastante fácil a aplicação nesse mercado, principalmente pelos sistemas home brokers (operação em casa) oferecidos pelas corretoras, que são de utilização simples e permitem a qualquer pessoa participar de um pregão eletrônico.

De forma resumida, uma ação é um título pelo qual o investidor passa a deter parte de uma determinada empresa. O local onde você pode comprar ou vender ações é chamado bolsa de valores. A bolsa oficial do Brasil está sediada em São Paulo e se chama BM&FBovespa S.A. (Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo). O rendimento de uma ação vem de duas formas:
• compra e venda, conforme o desempenho da ação na bolsa de valores.
• dividendos, ou seja, repartição dos lucros e benefícios dados pela empresa em questão.

Existem ações nas quais o investidor poderá ter direito a voto nas assembleias (chamadas ações ordinárias) e outras não (chamadas ações preferenciais). Historicamente, o mercado brasileiro tem mais ações preferenciais (PNs) que ordinárias (ONs), o que favorece a liquidez, ou seja, esses papéis têm maior volume de negócios. Os nomes das ações normalmente são compostos por um mnemônico (letras para facilitar a identificação da empresa) e um número. Exemplos:
PETR4 - Ação preferencial da Petrobrás
VALE3 - Ação ordinária da Vale do Rio Doce

Você pode investir em ações diretamente, por meio do chamado home broker, ou usando uma corretora como intermediadora (leia mais sobre corretoras clicando aqui). Existe ainda a possibilidade de investir em ações através de um fundo de investimentos (por exemplo, entregando seu dinheiro a um gestor especializado, para que ele invista em ações de empresas com potencial de valorização).

Entre as ações disponíveis na bolsa de valores, existem vários níveis de risco e liquidez. Ações de grandes empresas, como Petrobrás, por exemplo, costumam ter um desempenho mais linear, pois há muita gente comprando e vendendo ao mesmo tempo, gerando assim maior liquidez. Já ações de pequenas empresas possuem liquidez mais baixa, apresentando maior variação e possibilitando ganhos ou perdas maiores com a compra e venda dos papéis.

No entanto, de modo geral, investir em ações pode ser um excelente negócio para alavancar seus rendimentos e ajudá-lo a atingir de forma mais rápida a sua realização financeira. Para isso, basta um pouco de coragem, estudo e, obviamente, dinheiro. Logicamente, quando falamos em dinheiro, não significa que você deve pegar todo o seu capital e colocar na bolsa de valores. Você pode começar com um capital pequeno, para ir entendendo como funciona, até se sentir seguro para aplicar uma quantia maior.

Para começar, uma dica básica é evitar fazer operações de curto prazo. Por exemplo: "Hoje vou comprar X ações da Petrobrás e vou vendê-las amanhã ou na semana que vem!". Se a ação valorizou de um dia para o outro, tudo bem, você teve um lucro. Mas, se for divulgada uma notícia ruim na mídia sobre a referida empresa e o valor da ação despencar? O que você vai fazer? Vai vender para não ter mais prejuízos ou vai segurá-la, esperando uma recuperação? E se você segurá-la, tem alguma previsão de quando ela poderá se recuperar? Saiba que pode demorar dias, meses ou anos.

Logo, quem investe em ações precisa saber que as oscilações são comuns, é preciso ter "sangue frio" e sabe esperar uma crise passar. Por isso, recomenda-se que o dinheiro investido em ações seja um valor que você não irá precisar no curto prazo. Trabalhe sempre com horizontes longos, de preferência a partir de 5 anos. Dessa forma, você ficará mais tranquilo para poder esperar a recuperação da queda, visto que aquele dinheiro não será essencial para você agora. Se você tivesse, porém, necessidade de usar o dinheiro para pagar alguma dívida, por exemplo, seria obrigado a vender as ações e assumir as perdas, o que caracterizaria o insucesso do seu investimento.

Alguns poderiam perguntar: "Se eu investir em uma ação que desvalorizar, o que me garante que ela irá se recuperar um dia?". Na verdade, não existe uma garantia. Porém, podemos notar que a tendência natural das coisas no longo prazo, em geral, é sempre a de evolução. A medicina evolui, as tecnologias evoluem, assim como a economia evolui e o país tende a crescer ao longo dos anos. Logicamente, você não vai empregar grande parte do seu dinheiro na compra de ações da desconhecida empresa XYZ Construtora, pois, se ela quebrar da noite para o dia, você perderá todo seu dinheiro. É diferente de comprar um grande lote de ações de uma companhia sólida e que vem apresentando bons resultados ao longo de décadas.

Imagine que você vai ter um filho! Quando ele nascer, você resolve presenteá-lo com R$ 5 mil em ações da Petrobrás. Você não conta nada para ele sobre a compra das ações e espera ele completar 18 anos. Quando isso acontecer, você conta que ele é proprietário das ações e permite que ele as venda no mercado. Você tem ideia de quanto dinheiro ele terá à disposição? É muito mais fácil que aquele patrimônio tenha se multiplicado ao longo desses 18 anos, do que tenha reduzido. Afinal, foram quase duas décadas, nas quais o país e a economia passaram por grandes mudanças e, provavelmente, evoluções.

Portanto, tenha em mente que o mercado de ações é uma constante gangorra. Você pode até tentar prever o que vai acontecer nos próximos dias ou próximos anos, porém não passará de uma previsão mesmo. Quando você tiver quase certeza que a bolsa vai subir, ela cai. Quando achar que ela vai cair, ela sobe, e assim por diante. Por isso, é importante enfatizar que investir em ações requer planejamento, evitando fazer loucuras com operações de curto prazo. Estude e invista com consciência, para evitar o desperdício de um dinheiro que poderia agregar muito na sua realização financeira no futuro.

Confira a seguir alguns termos bastante usados no mercado de ações.

Corretagem: é a taxa que você paga ao intermediário (ex: corretora) para realizar a compra ou venda das ações. É mais prejudicial, por exemplo, para pequenos investidores, pois pode inviabilizar operações com pequenos valores, por afetar a rentabilidade.

Pregão: o local, nas bolsas de valores, onde se realizam os negócios. O antigo pregão físico, que causava aquela gritaria no saguão da bolsa, perdeu espaço para o pregão eletrônico, ou seja, a compra e venda de ações pela Internet.

Volatilidade: é o mesmo que variação. Uma ação de alta volatilidade é aquela que tem fortes variações de preço. Já uma ação de baixa volatilidade é aquela que sempre fica próxima de um preço médio, sem muita oscilação.

Liquidez: indica a velocidade na qual podemos transformar a ação em dinheiro. Uma ação bastante líquida é aquela muito negociada, onde sabemos que encontraremos facilmente um comprador se quisermos vendê-la, sem precisar reduzir muito o seu preço, caso haja pressa nessa venda. Já uma ação com pouca liquidez apresenta poucos negócios e inclusive pode ficar sem negociação em alguns pregões.

Home Broker: programa semelhante ao site do seu banco (home banking), porém ao invés de realizar transferências, você irá verificar os preços das ações, realizar compras ou vendas e acompanhar a variação dos preços por meio de gráficos.

Day Trade: é uma operação de compra e venda realizada no mesmo dia. Pode ser uma compra seguida de venda, ou venda seguida de uma compra (para obter lucro em uma eventual queda).


Este assunto é abordado no livro "Jovem e Bem-Sucedido"

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